Horários

A diversidade cultural única de Paraty resulta de duas vertentes sempre presentes: a tradição e a contemporaneidade. Quando começou a cessar seu isolamento de mais de meio século, com a abertura da Paraty-Cunha em 1954 (acelerando-se com a Rio-Santos duas décadas depois), a redescoberta de seu patrimônio histórico, natural e cultural singularmente preservado atraiu artistas de diferentes áreas a nela passar temporadas ou se radicar.


Criou-se assim um diálogo entre o que permanecia e o novo a chegar, estimulando também os artistas locais, e fomentando ciclos culturais a se sucederem até hoje, como quando depois da Festa do Divino, com ritos e costumes de dois séculos atrás, vem uma FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) com todo o cosmopolitismo de autores prêmio Nobel passeando nas mesmas ruas onde passam as procissões.


E os artistas convidados para abrir o espaço também reservado à contemporaneidade em meio à tradição do casarão da fazenda Bananal apresentam obras que trazem outro diálogo, bem adequado ao lugar: entre a natureza e a cultura. Ou melhor: a arte se fazendo a partir de encontros com o que a natureza vai deixando ao acaso, sejam sementes ao vento, cascas e folhas que caíram de árvores, troncos que o mar trouxe.


E um gesto, ou uma soma deles (entre a pintura e a composição no espaço com outros elementos), restitui esse encontro como arte – destaca-o digno de atenção, o faz querer dizer mais, e o põe de volta a indagar o mundo de onde veio. Indagação essa a ressoar profundamente em quem o vê e em todo seu entorno; ainda mais se assim privilegiado como o da fazenda – a inspirar impressão da natureza (e em meio a ela se ver parte) ainda maior.

Patrícia Sada
Natural de Monterrey, México, onde formou-se em Arquitetura; e em Barcelona, em Belas Artes. Mora em Paraty há 40 anos onde, de se dedicar à pintura desde criança, fez da arte sua principal carreira há 30 anos, o tempo em que vem mantendo sempre aberto seu ateliê no mesmo endereço na Rua da Praia – o qual considera sua principal exposição, ainda que tenha realizado outras aqui (no IHAP e na Casa da Cultura) e nas cidades em que antes viveu. Usa acrílica, lápis, crayons e colagens sobre vários suportes, da tela a diferentes papéis e madeira, incluindo objetos encontrados na natureza; seja os compondo, seja incorporando-os em sua simples surpresa: como o tronco que o mar aportou na prainha bem em frente a seu ateliê, o Yellow Submarine nesta exposição.


Fernando Fernandes
Natural de Piracema, SP, formou-se no IADE, em Propaganda e Marketing, e nos cursos livres do Museu Lasar Segall em São Paulo. Participou de diversos salões e fez uma exposição individual no Centro Cultural São Paulo. Ilustrar publicações independentes da poesia alternativa levou-o a colaborar com o livro de Sergio Atilano editado pela Massao Ono e à decisão de se mudar para Paraty em 1991, onde ambos criaram o Studio Bananal. De sair da metrópole e dar com o impacto da exuberância da natureza, nova vertente se abriu em sua  arte, para além dos trabalhos em papel e tela: descobrir e procurar a arte possível a fazer do que encontrava solto pela natureza, a reinterpretar, justapor e compor como na instalação Vento Forte nesta exposição.


Sergio Atilano

Natural de Ituverava, SP, cursou Propaganda e Marketing na UFF e Ciências Sociais na USP, mas dedicou-se a escrever, envolvendo-se com o movimento de poesia marginal em publicações independentes na década de 1980, lançando depois um livro pela editora Massao Ono, ilustrado por Fernando Fernandes. Os dois se radicaram em Paraty há 31 anos, onde criaram o Studio Bananal, em que Sérgio orientou-se também para as artes visuais, em sintonia e desenvolvendo seu viés particular tanto em suas telas e trabalhos sobre papel reciclado quanto na interpretação dos materiais oferecidos pela natureza. Experiência em comum que compartilharam também com Patricia Sada, em exposição anterior com o mesmo nome e maravilhamento, mas aqui renovada e ampliada: Natureza Mor.